STF “libera”, mas tráfico agradece: descriminalização do porte de maconha não muda realidade das ruas
Usuário não será mais preso, mas seguirá comprando do crime. Consumo em locais públicos pode se tornar desafio
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O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, manter a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal e fixar o limite de 40 gramas para diferenciar usuários de traficantes. A decisão, no entanto, não legaliza a droga nem encerra o domínio do tráfico, que continua sendo a única via de acesso à cannabis no Brasil.
Além disso, embora o consumo em locais públicos siga proibido, a nova interpretação da lei pode dificultar a fiscalização e reforçar a sensação de impunidade. O impacto real da medida, portanto, pode ser mais jurídico do que social, alterando a punição aos usuários, mas sem grandes mudanças na dinâmica das ruas.
Menos prisões, mas uso em locais públicos pode aumentar
Com a nova decisão, quem for flagrado portando maconha dentro do limite estabelecido não será mais tratado como criminoso, mas sim como um infrator sujeito a sanções administrativas, como advertências e cursos educativos.
No entanto, um ponto de preocupação é que a descriminalização pode estimular o consumo em locais públicos. Antes, o medo de represálias mais severas afastava os usuários desses espaços. Agora, sem o risco de punição criminal, a fiscalização pode se tornar mais difícil, já que a abordagem policial terá menos força para coibir o uso da droga.
Em países onde a descriminalização ocorreu sem regulamentação completa, como Portugal, o consumo não aumentou drasticamente, mas tornou-se mais visível em algumas áreas. No Brasil, o impacto dependerá da atuação das autoridades locais e do rigor na aplicação das novas regras.
O tráfico segue lucrando: sem regulamentação, crime organizado mantém controle
A decisão do STF não afeta a venda da maconha, que segue sendo ilegal e monopolizada pelo tráfico. Sem uma regulamentação que permita a produção e comercialização controlada da droga, usuários continuarão comprando de traficantes, mantendo a engrenagem do crime organizado girando.
Nos estados norte-americanos onde a maconha foi legalizada, como Colorado e Califórnia, o tráfico perdeu espaço porque os consumidores passaram a comprar a droga legalmente. No Brasil, onde a venda segue proibida, o tráfico não perderá um centavo com a nova decisão do STF.
Segurança pública: impacto real ou mudança superficial?
Do ponto de vista da segurança pública, a principal mudança será a redução no número de prisões por porte de pequenas quantidades. O sistema prisional brasileiro é um dos mais lotados do mundo, e muitos jovens, principalmente negros e de baixa renda, eram presos injustamente como traficantes, mesmo carregando pequenas porções da droga.
Por outro lado, o efeito sobre a violência urbana será mínimo. Como o comércio ilegal de maconha segue inalterado, os conflitos entre facções criminosas pelo controle do tráfico continuarão existindo, e a repressão policial seguirá focada nos distribuidores e vendedores da droga.
Conclusão: menos punição para usuários, mas sem mudanças estruturais
A decisão do STF é um marco na política de drogas do Brasil, garantindo que usuários de maconha não sejam mais tratados como criminosos. No entanto, sem regulamentação para produção e venda, o tráfico segue forte, e a realidade nas ruas permanece a mesma.
O debate sobre a maconha no Brasil está longe de acabar. A descriminalização do porte pessoal foi um passo importante, mas, sem políticas complementares, a droga seguirá circulando nas mãos do crime, e o consumo em locais públicos continuará um desafio para a sociedade e as autoridades.
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