Em vigor desde janeiro deste ano, o aumento de 92% nos salários dos vereadores da Serra, aprovado em 10 de maio de 2023, elevou seus vencimentos de R$ 9.208,33 para R$ 17.681,99. Um valor sete vezes maior do que a renda média dos trabalhadores formais do município, estimada em R$ 2.500 pelo IBGE. Essa disparidade escancara uma realidade preocupante: a desconexão entre quem legisla e quem é representado.

Um Abismo Social

O salário atual dos parlamentares serranos não apenas contrasta com os ganhos da maioria dos trabalhadores locais, mas também sublinha as desigualdades de uma sociedade onde alcançar R$ 17.681,99 ao mês é um privilégio para poucos. Para os moradores da Serra, onde muitas famílias sobrevivem com rendas que mal cobrem as necessidades básicas, esse montante representa um ideal inalcançável.

Essa disparidade convida a uma reflexão: o que justifica um salário tão elevado para os vereadores? Se a maioria dos cidadãos não teria acesso a esse patamar salarial em anos de dedicação e qualificação profissional, é justo que os representantes eleitos recebam tanto, independentemente de seu desempenho?

Representação ou Privilégio?

A política deveria ser um espaço dedicado ao bem comum, onde o mandato representa os anseios da comunidade e promove melhorias concretas. No entanto, a aprovação de salários elevados para políticos brasileiros, especialmente com aumentos tão expressivos, levanta sérios questionamentos sobre as prioridades daqueles que se projetam na vida pública.

Na Serra, a realidade evidencia problemas graves, como a precariedade no sistema de saúde, a carência de investimentos em educação e a fragilidade da infraestrutura. Diante desse cenário, ao aprovarem para si mesmos um reajuste tão significativo, os vereadores passam à população a impressão de que interesses pessoais estão sendo colocados acima do compromisso com o bem coletivo.

O Peso para os Cofres Públicos

Além do impacto simbólico, há um custo prático. O aumento salarial é pago com recursos provenientes dos impostos arrecadados, ou seja, do bolso da população. Isso inclui não apenas o trabalhador formal, que ganha em média R$ 2.500, mas também aqueles que vivem de salários mínimos e enfrentam a carga tributária desproporcional ao que recebem.

O questionamento inevitável é: o serviço público oferecido pelos vereadores está à altura do investimento financeiro que a sociedade faz? Projetos de lei relevantes, fiscalização rigorosa do Executivo e ações voltadas para o bem-estar social deveriam ser o mínimo esperado. Caso contrário, o aumento não passa de um fardo adicional para o cidadão.

Uma Reflexão Necessária

O ganho salarial dos vereadores da Serra é um convite para uma discussão mais ampla sobre os valores que atribuímos à política. Se os salários são proporcionais às responsabilidades e à entrega de resultados, será que os cidadãos da Serra têm recebido um retorno justo? A qualidade da gestão pública deve ser o verdadeiro parâmetro de avaliação.